Carlos Duarte Costa (Rio de Janeiro, 21 de julho de 1888 — Rio de Janeiro, 26 de março de 1961) foi um bispo católico excomungado pela Santa Sé e, posteriormente, fundador da Igreja Católica Apostólica Brasileira.
Foi canonizado por seus seguidores como São Carlos do Brasil.
Biografia
Nascido no Rio de Janeiro, na freguesia de Santo Antônio, em 21 de julho de 1888, concluiu seus estudos primários no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói.
Em 1897, aos nove anos, seu tio Bispo de Goiás, enviou-o a Roma para estudar no Colégio Internato Pio-Latino Americano. Retornou ao Brasil e estudou no Seminário Filosófico e Teológico em Uberaba, sendo ordenado padre no dia 1 de abril de 1911, pelo Cardeal Dom Joaquim Cavalcanti.
Ministério
Foi pároco em várias igrejas no Rio de Janeiro e em 1923 foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em 1924 o Papa Pio XI nomeou Dom Carlos como o segundo bispo da Diocese de Botucatu, sendo sagrado bispo pelo cardeal Dom Sebastião Leme.
Dom Carlos foi um bispo polêmico: defendia o divórcio. Em 1932 organizou o Batalhão do Bispo para lutar na Revolução Constitucionalista; possuia uma ação social agressiva que dilapidou os cofres da diocese. Devido a suas posições e má situação financeira da Diocese de Botucatu, foi investigado pela Cúria Romana e em 1937 renunciou à seu cargo, recebendo o título de Bispo de Maura, uma diocese extinta no Norte da África, e mantendo o de Bispo Emérito de Botucatu.
A renúncia
Dom Carlos mudou para o Rio de Janeiro, onde continuou sua crítica ao regime de Getúlio Vargas.
Também iniciou a pregar contra a doutrina da infalibilidade Papal, manter uma atitude liberal quanto ao divórcio e a liberdade para os clérigos se casarem.
Em 1944 foi preso, e pressões internacionais encabeçadas pelo presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt e pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill fizeram que o governo federal libertassem-no.
Para difundir suas idéias e polemizar com a Igreja Católica, com o governo brasileiro e com a intelectualidade em geral, enquanto esteve na Igreja Romana, manteve uma revista chamada Mensageiro de Nossa Senhora Menina, depois já na sua Igreja Católica Apostólica Brasileira, a revista A Luta.
Sua reflexão e atividade pastoral voltada para a praxis sem precindir das ciências sociais para a compreensão da realidade, o coloca como um dos precursores da Teologia da Libertação, condição reivindicada pelos teologos da sua igreja adeptos dessa escola teológica, como Dom Geraldo Albano de Freitas e Rosalvo Salgueiro.
A excomunhão
Em 1945 Dom Carlos denunciou uma suposta Operação Odessa, que afirmou ter sido organizada pelo Vaticano para permitir a fuga de oficiais nazistas. Após isso, que mostrou-se um estopim para que viesse punição mais severa para o dissidente bispo, o Papa Pio XII excomungou-o. D. Carlos ignorou a excomunhão e, em 18 de agosto, fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira. Como é sabido, o Papa Pio XII não se opôs publicamente em caráter oficial aos regimes e ideologias nazi-facistas, mas, como é de conhecimento de poucos, agiu silenciosamente, permitindo assim, salvar a vida de muitos judeus em vários países europeus[1].
A ICAB
Dom Carlos, no período compreendido da sua saída da Igreja Católica Apostólica Romana e a organização por ele da Igreja Católica Apostólica Brasileira, aos 15 de agosto de 1945 ordenou como bispo, o então Bispo-eleito da Igreja Católica Livre Dom Salomão Barbosa Ferraz[2], que, em 1959 abandonou a sua Jurisdição para unir-se à Igreja Católica Apostólica Romana, onde foi recebido pelo Papa João XXIII e reconhecido como válido Bispo, sem receber nova sagração (mesmo "sub conditione").
Dom Carlos, em outubro de 1945, fundou o Partido Socialista Cristão registrado no Tribunal Superior Eleitoral por meio da Resolução 211[3].
Após a sua morte, ocorrida em 26 de março de 1961, Dom Carlos Duarte Costa foi canonizado pelos bispos da ICAB em 1970 como São Carlos do Brasil.